16 de setembro de 2025 19:52

Miquéias

Capítulo 1

1 Oráculos do Senhor dirigidos a Miqueias de Morasti, no tempo de Joatão, de Acaz e de Ezequias, reis de Judá.

2 Povos, ouvi todos! Terra, e tudo o que conténs, estai atenta! O Senhor Javé vai testemunhar contra vós, o Senhor, do alto de sua santa morada.

3 O Senhor vai sair de sua morada, vai descer e pisar os mais altos cumes da terra.

4 Sob seus pés os montes se fundirão, os vales se dissolverão como a cera perto do fogo, como a água que rola pela encosta.

5 Tudo isso por causa da infidelidade de Jacó, por causa dos pecados da casa de Israel. Qual é a infidelidade de Jacó? Não é a Samaria? Quais os lugares altos de Judá? Não é Jerusalém?

6 Farei da Samaria um montão de pedras no campo, um terreno onde plantarão vinhas. Farei rolar as suas pedras no fundo do vale, e porei a descoberto seus alicerces.

7 Todos os seus ídolos serão quebrados, todos os seus ganhos de prostituição serão queimados no fogo; destruirei todos os seus ídolos, porque foram pagos com salário de prostituição, e em salário de prostituição serão convertidos.*

8 Por isso, prantearei, gritarei, andarei descalço e nu, soltarei gemidos como o chacal, e lamentações como o avestruz.

9 Porque o golpe na Samaria é incurável, e atinge também Judá; feriu até a porta de meu povo, até Jerusalém.*

10 Não o anuncieis em Gat, não choreis em Soco! Revolve-te no pó em Bet-Leafra;*

11 passa numa vergonhosa nudez, habitante de Safir. Os habitantes de Saanã não saem mais, o luto de Bet-Esel tira-vos o seu refúgio.

12 O habitante de Marot treme por seus bens, porque a desgraça mandada pelo Senhor chegou às portas de Jerusalém.

13 Atrela o cavalo ao carro, habitante de Laquis! Foste a causa dos pecados da filha de Sião, pois em ti se acharam as maldades de Israel.

14 Por isso, será preciso renunciar a Morasti de Gat; as casas de Aczib decepcionarão os reis de Israel.

15 Habitante de Maresa, eu te mandarei um novo senhor, o escol de Israel irá até Odolam.

16 Corta os teus cabelos; rapa a tua cabeça por causa de teus filhos queridos; torna-te calva, como o abutre, porque foram levados cativos para longe de ti.

Capítulo 2

1 Ai dos maquinadores de iniquidade, dos que tramam o mal nos seus leitos, e o executam logo ao amanhecer do dia, porque têm o poder na mão!

2 Cobiçam as terras e apoderam-se delas, cobiçam as casas e roubam-nas; fazem violência ao homem e à sua família, ao dono e à sua herança.

3 Por isso, eis o que diz o Senhor: medito um mal contra essa raça, do qual não livrareis o vosso pescoço. Não andareis mais com a cabeça erguida, porque será um tempo de calamidades;*

4 naquele dia irão compor canções a vosso respeito, e será cantada uma elegia: Estamos perdidos, se dirá; fizeram passar a outros parte de meu povo. Como a arrebataram de mim? Nossas terras foram divididas entre os rebeldes.*

5 Por isso, não haverá ninguém que estenda o cordel para ti sobre uma parte na assembleia do Senhor.*

6 “Não profetizeis” – dizem eles –, “não se profetize mais assim; isso não afastará o opróbrio.*

7 Ó tu, a quem chamam casa de Jacó, acaso está o Senhor pronto a irritar-se? Será essa sua maneira de agir?” Não são minhas palavras cheias de bondade para com quem anda na retidão?

8 Mas vós assistis contra o meu povo o inimigo, arrancais o manto de sobre a veste. Aqueles que seguem o seu caminho, vós os tratais como inimigos.*

9 Expulsais as mulheres de meu povo dos seus estimados lares; tirais para sempre de seus filhos a honra que lhes dei.*

10 De pé! Parti! Porque esta terra não é um lugar de descanso. Por causa de vossa imundície, um cruel tormento vos será infligido.*

11 Se houvesse um homem que atirasse palavras ao vento e espalhasse mentiras: “Vou falar-vos de vinho e de cerveja!”. Tal é o profeta que convém ao meu povo.*

12 Reunirei Jacó todo, recolherei o resto de Israel. Porei tudo junto como ovelhas no aprisco, como um rebanho no seu redil: será uma ruidosa multidão de homens.

13 Irá à sua frente aquele que fez a brecha, eles se lançarão para passar pela porta e sairão. Seu rei passará diante deles, e o Senhor irá à sua frente.*

Capítulo 3

1 Eu disse: Ouvi, chefes de Jacó, e vós, príncipes de Israel; não devíeis vós saber o que é justo?

2 E, entretanto, odiais o bem e amais o mal, arrancais a pele da carne e a carne dos ossos.

3 Devoram a carne do meu povo, arrancam-lhe a pele, quebram-lhe os ossos; partem-no como os pedaços postos na panela, como a carne para a caçarola.

4 Um dia clamarão ao Senhor, mas ele não lhes responderá; ele lhes ocultará a sua face naquele dia por causa da malícia de seus atos.

5 Oráculo do Senhor contra os profetas que desencaminham o meu povo, que anunciam a paz quando têm algo para mastigar e declaram guerra a quem não lhes põe nada na boca.*

6 Por isso, em lugar de visões, tereis a noite, e trevas em lugar de revelações. O sol se porá para esses profetas, o dia vai tornar-se obscuro;

7 serão confundidos os videntes, envergonhados os adivinhos. Todos esconderão a barba, porque Deus cessará de lhes falar.*

8 Eu, porém, estou cheio de força do Espírito do Senhor, de justiça e de coragem, para denunciar a Jacó sua maldade, e a Israel seu pecado.*

9 Ouvi isto, chefes da casa de Jacó, príncipes da casa de Israel, que tendes horror à justiça, e torceis tudo o que é reto,

10 que edificais Sião com sangue e Jerusalém com o preço da iniquidade.

11 Seus chefes exercem o juízo por gratificação, seus sacerdotes só ensinam mediante salário, seus profetas vaticinam a preço de dinheiro. E ainda ousam apoiar-se no Senhor, dizendo: “Não é verdade que o Senhor está no meio de nós? A desgraça não nos atingirá!”.

12 Pois bem! Por vossa causa Sião será como um campo lavrado, e Jerusalém será um montão de escombros, e a colina do templo, um morro cheio de mato.

Capítulo 4

1 Acontecerá, no fim dos tempos, que a montanha da casa do Senhor será estabelecida no ápice das montanhas, e será mais elevada que todos os outeiros. Os povos afluirão para ela,

2 numerosas nações ali virão, dizendo: “Vinde, subamos à montanha do Senhor, à casa do Deus de Jacó. Ele nos ensinará os seus caminhos, e andaremos por suas veredas”. Porque de Sião sairá a doutrina, e de Jerusalém a palavra do Senhor.*

3 Ele será árbitro de numerosas nações e juiz de povos longínquos e poderosos. De suas espadas forjarão arados, e de suas lanças, foices; uma nação não levantará mais a espada contra outra, e não se exercitará mais para a guerra.*

4 Mas cada um habitará debaixo de sua vinha e debaixo de sua figueira, sem que ninguém o moleste; porque assim o prometeu, por sua boca, o Senhor dos exércitos.

5 Com efeito, todos os povos andam, cada um em nome de seu deus; nós, porém, andaremos para sempre em nome do Senhor, nosso Deus.

6 Naquele dia – oráculo do Senhor –, recolherei os coxos, reunirei os dispersos e os que eu tinha afligido.

7 Dos estropiados farei um resto, dos afastados, uma nação robusta; e o Senhor será o seu rei sobre o monte Sião, desde agora e para sempre.

8 E tu, torre do Rebanho, colina da filha de Sião: voltará a ti tua soberania de outrora, a realeza sobre a casa de Israel.*

9 E agora, por que gritas? Acaso não há rei em ti? Ou pereceu o teu conselheiro, para que se apoderem de ti dores como as de uma parturiente?

10 Convulsiona-te e geme, filha de Sião, como uma mulher que dá à luz. Vais ter que deixar a cidade e morar no campo; irás até a Babilônia e ali serás salva; ali te resgatará o Senhor da mão de teus inimigos.

11 Agora se juntam contra ti numerosas nações que dizem: “Seja profanada Sião! Possam nossos olhos ver esta ruína!”.

12 Todavia, elas desconhecem os planos do Senhor, não entendem o seu desígnio, que é de ajuntá-los como grãos na eira.*

13 Eia, filha de Sião! Tritura aos pés o grão! Pois te darei uma testa de ferro e te darei cascos de bronze, para que esmagues numerosos povos; votarás seus despojos ao Senhor e suas riquezas ao Senhor da terra.

14 Agora, reúne tuas tropas, filha de guerreiros! Vieram e nos cercaram, ferem com uma vara a face do juiz de Israel.

Capítulo 5

1 Mas tu, Belém de Éfrata, tão pequena entre os clãs de Judá, é de ti que sairá para mim aquele que é chamado a governar Israel. Suas origens remontam aos tempos antigos, aos dias do longínquo passado.*

2 Por isso, Deus os deixará, até o tempo em que der à luz aquela que há de dar à luz. Então, o resto de seus irmãos voltará para junto dos filhos de Israel.*

3 Ele se levantará para os apascentar, com o poder do Senhor, com a majestade do nome do Senhor, seu Deus. Os seus viverão em segurança, porque ele será exaltado até os confins da terra.

4 E assim será a paz. Quando o assírio invadir nossa terra e pisar nossos terrenos, nós lhe resistiremos com sete pastores e oito príncipes do povo.*

5 Devastarão a terra da Assíria com o gládio, e com a espada a terra de Nemrod. Assim nos salvará ele do assírio, quando este invadir nossa terra e atacar nosso solo.

6 O resto de Jacó será, no meio de muitos povos, como o orvalho provindo do Senhor, como gotas de chuva sobre a relva, que nada tem a desejar do homem nem a esperar dos filhos dos homens.*

7 O resto de Jacó será, entre as nações, no meio de muitos povos, como um leão entre os animais da floresta, como um leãozinho em um rebanho de ovelhas: por onde quer que passe, esmaga e despedaça, sem que ninguém lhe arranque a presa.

8 Levante-se vossa mão contra os vossos adversários e sejam aniquilados todos os vossos inimigos!

9 Naquele tempo – oráculo do Senhor –, farei desaparecer teus cavalos do meio de ti, destruirei teus carros,

10 arruinarei as cidades de tua terra, e demolirei todas as tuas fortalezas.

11 Arrancarei de tuas mãos os teus sortilégios, e não haverá mais adivinhos no meio de ti.

12 Tirarei do meio de ti os ídolos e as colunas, e cessarás de adorar a obra de tuas mãos.

13 Extirparei de tua terra os bosques sagrados e arrasarei tuas cidades.

14 Em minha cólera e furor, tomarei vingança das nações que não obedeceram.

Capítulo 6

1 Ouvi o que diz o Senhor: Vamos, advoga tua causa diante das montanhas, ouçam as colinas a tua voz!

2 Ouvi, montanhas, o processo do Senhor, e vós, fundamentos perenes da terra. Porque o Senhor entrou em juízo com seu povo, ele vai pleitear com Israel:

3 “Povo meu, que te fiz, ou em que te contristei? Responde-me.

4 Fiz-te sair do Egito, livrei-te da escravidão, e mandei diante de ti Moisés, Aarão e Maria.

5 Povo meu, lembra-te dos desígnios de Balac, rei de Moab, e a resposta que lhe deu Balaão, filho de Beor; lembra-te da etapa entre Setim e Guilgal, para reconheceres os benefícios do Senhor”.*

6 “Com que me apresentarei diante do Senhor e me prostrarei diante do Deus soberano? Irei à sua presença com holocaustos e novilhos de um ano?*

7 Porventura, agradará ao Senhor com milhares de carneiros, ou com milhões de torrentes de óleo? Eu lhe sacrificarei pela minha maldade o meu primogênito, o fruto de minhas entranhas por meus próprios pecados?”

8 Já te foi dito, ó homem, o que convém, o que o Senhor reclama de ti: que pratiques a justiça, que ames a bondade, e que andes com humildade diante do teu Deus.*

9 A voz do Senhor eleva-se contra a cidade – é sabedoria temer o vosso nome. Ouve, tribo: ouve, assembleia da cidade.*

10 Haverá ainda na casa do ímpio tesouros mal adquiridos e um efá diminuído e maldito?*

11 Pode-se ser inocente com balanças falsas e com um saco cheio de pesos enganosos?

12 Os ricos da cidade são homens violentos, os seus habitantes proferem mentiras, e em sua boca a língua só serve para enganar.

13 Por isso, vou começar a ferir-te por minha vez, a devastar-te por causa de teus pecados.

14 O que comeres não te saciará, haverá fome em tua casa; porás os teus bens em lugar seguro, mas não os salvarás, e o que tiveres salvo, eu o entregarei à espada…

15 Semearás e não colherás, espremerás a oliva mas não terás óleo com que te ungir; pisarás o mosto, mas não terás vinho para beber.

16 Observam-se as leis de Amri, seguem-se os exemplos da casa de Acab; procede como eles, para que eu te reduza à desolação, e teus habitantes às vaias e assobios; suporta os insultos de meu povo.

Capítulo 7

1 Ai de mim! Porque sou como quem restolha frutos no verão, como quem respiga depois da vindima: não há sequer um cacho para comer, nenhum desses figos temporões de que tanto gostaria!

2 Desapareceram os homens piedosos da terra, não há quem seja íntegro entre os homens. Todos andam à espreita para derramar sangue, cada um arma laços ao seu irmão.

3 Suas mãos estão prontas para o mal: o príncipe exige um presente, o juiz cobra as suas sentenças, o grande manifesta abertamente suas cobiças, todos tramam suas intrigas.

4 O melhor dentre eles é como um silvedo, o mais íntegro, como uma sebe de espinhos. No dia anunciado por teus vigias, vem o castigo: eles serão completamente destruídos.

5 Não confies em colega, não contes com amigos, nem mesmo com quem dorme contigo. Guarda-te de abrir a boca!

6 Porque o filho trata seu pai de louco, a filha levanta-se contra sua mãe, a nora contra sua sogra; e os inimigos são os da própria casa.

7 Eu, porém, volto meus olhos para o Senhor, ponho minha esperança no Deus de minha salvação; meu Deus me ouvirá.

8 Não te alegres a meu respeito, inimiga minha; se estou caída, eu me levantarei; se estou sentada nas trevas, o Senhor será minha luz.

9 Suportarei a cólera do Senhor, porque tenho pecado contra ele, até que ele tome em suas mãos a minha causa e deponha em meu favor; até que me conduza para a luz e que eu contemple a sua justiça.*

10 Minha inimiga verá isso e ficará coberta de vergonha, ela que me dizia: “Onde está o Senhor, teu Deus?”. Meus olhos a contemplarão, quando for pisada aos pés como a lama das ruas.*

11 Aproxima-se o dia em que se reconstruirão os teus muros, aquele dia em que se ampliarão tuas fronteiras.

12 Nesse dia virão a ti da Assíria e das cidades do Egito, desde o Egito até o rio, de um mar a outro, de uma montanha a outra.*

13 A terra se tornará um deserto, por causa de seus habitantes: tal será o fruto de suas obras.

14 Conduzi com o cajado o vosso povo, o rebanho de vossa herança que se encontra espalhado pelas brenhas, para o meio de vergéis; que ele paste como outrora em Basã e em Galaad.*

15 Como nos dias em que saístes do Egito, fazei-nos ver prodígios.

16 As nações os verão e sentirão vergonha de sua própria bravura; porão a mão na boca e seus ouvidos ficarão surdos;

17 lamberão o pó como as serpentes, como os répteis da terra. Tremendo, sairão de seus retiros, e virão amedrontadas para o Senhor, nosso Deus; e elas vos temerão.

18 Qual é o Deus que, como vós, apaga a iniquidade e perdoa o pecado do resto de seu povo, que não se ira para sempre porque prefere a misericórdia?

19 Uma vez mais, tende piedade de nós! Esquecei as nossas faltas e jogai nossos pecados nas profundezas do mar!

20 Mostrai a vossa fidelidade para com Jacó, e vossa piedade para com Abraão, como jurastes a nossos pais desde os tempos antigos!